Esperançar
05/ago/2013Na última sexta-feira à noite tive a oportunidade ímpar de assistir a uma palestra de Mário Sérgio Cortella. Para quem não o conhece, vale rememorar sua atuação como Secretário Municipal de Educação de São Paulo durante a administração da Prefeita Luiza Erundina ou citar livros de sua autoria como Não se desespere!, Qual é a tua obra?, Política para não ser idiota ou Não nascemos prontos, entre outros. Também é possível ouvi-lo de segunda a sexta-feira, na CBN, no quadro Escola da Vida ou assistir aos seus comentários no Jornal da TV Cultura. Sem dúvidas, estamos falando de um dos maiores pensadores de educação no país na atualidade.
O debate proposto por Cortella girou em torno de dois termos significativos e que, segundo ele, são sinônimos: política e cidadania. Para o filósofo, fazemos política todos os dias, seja ao decidir o que fazer com o óleo de cozinha usado, seja ao recolher uma casca de banana deixada por algum desatento em pleno passeio público.
Política, nesse sentido, não tem relação direta com partidos e sim com atitudes. É preciso dar um basta no conformismo e assumir uma das máximas da Ordem Beneditina: Não resmungar! É permitido discutir, criticar, e debater, mas jamais, resmungar. Devo confessar que a frase emitida por Cortella despertou boas risadas no público. Afinal, quantas vezes já dissemos por aí: “Alguém ter que fazer alguma coisa!”
Questionar algumas definições – que de tão repetidas parecem verdades – é um dos primeiros passos para o exercício da cidadania. Sendo assim, em um país marcado por uma intensa miscigenação e diversidade, é impensável termos à disposição meias cor de pele ou shampoos para cabelos normais, não é mesmo? Mais uma prova de que política se faz nas coisas mais singelas do dia a dia.
Entre tantas histórias contadas por Cortella neste happy-hour às avessas, uma me chamou a atenção; ele dizia ter presenciado a chegada de um ET no Brasil e de como fora surpreendido pelas graças do lugar. Cortella dialogava com o alienígena – que lá pelas tantas já estava com os 8 olhos esbugalhados de tanta admiração pelo país – e deixou escapar que aqui não havia ciclone, tsunami, nevasca, furacão ou qualquer coisa que o valha. Em compensação, também não havia saneamento básico, vagas nas escolas, bons atendimentos hospitalares ou alimentos para todos. “Mas, como isso é possível?”, indagou o ET. “Aqui é assim”, disse um apático Cortella que nada condizia com o palestrante que nos encarava.
Quase no final de sua exposição, ele revelou como foi determinante topar em seu caminho com um educador sublime e entender que apesar das adversidades, o ideal é esperançar, ou seja, ter esperança, algo bem diferente do verbo esperar e tão caro ao ato político e cidadão. Este educador era Paulo Freire. Mas sua história fica para um outro post.
Bom semestre e inté!
Mas que ET desatualizado. Pensava eu, que o Planeta Terra era um instrumento de análise do tipo “O que não fazer” ou “Como aprender com os erros de um planeta inferior”.
Lembrando que esse breve comentário é apenas uma crítica. Longe de mim, cidadã, resmungar.
Esperançar. Não me esquecerei disso.
“Alguém ter que fazer alguma coisa!”, “Aqui é assim”.
Um basta para esse conformismo, né?
Saudades das suas aulas…
Temos que ter esperança e parar de resmungar, aprendi que para mudar as coisas primeiro temos que mudar nós mesmos!!
Bjoss e ótimo texto como sempre!
A palestra foi incrível mesmo. De um jeito simples e direto nos fez refletir sobre pequenos gestos, mas de grande importância. Ao ler seu texto, que por sinal, relata com magnitude muitos ensinamentos oriundos da palestra, lembrei-me de mais um: não ser um idiota! Refere-se à etimologia da palavra “idiota”, que remete ao grego “idiotés”, com o significado de “aquele que só vive a vida privada, que recusa a política”. Ou seja, o “idiota”, para os gregos, era aquele que não se importava em participar ativamente das decisões em sua comunidade, era uma espécie de “alienado”.
Bom dia.
Ótimo texto.
Ricardo